Acreditar que há a possibilidade é estar possuída por uma esperança ativa que é verbo, que é ação e jamais passiva espera. É estar tomada já agora pelo futuro e, por isso, experimentar ser possuidora de uma estranha força de sonhar e de coragens que brotam plurais na fragilidade da vida. A esperança é a prática da possibilidade. Podemos, até mesmo, dizer que a esperança é a prática do futuro.
Enxergar a possibilidade é ser capaz de ver, ainda na semente, o fruto. Na semente está o vir-a-ser, o novo fruto, a possibilidade da fartura. Se a semente não se deixar tomar inteiramente pela terra, se não se entregar, confiando-se àquele chão que a recebe, cobre e fecunda, não haverá a possibilidade. Sem a entrega confiante, será o seu fim.
Durante a nossa vida vamos distribuindo sementes e não temos como saber quantas darão frutos, nem com qual intensidade. Talvez até o fim de nossa vida ainda nos perguntemos se fizemos a semeadura certa. Mesmo assim, o que seria de nós se não acreditássemos que vale a pena?
Na cidade de Kaunas, na Lituânia, na praça do Museu da Guerra, há uma estátua de um despretensioso semeador. O artista Morfai, grafiteiro da cidade, fez uma intervenção que interage com a sombra e as luzes da noite. À noite o semeador diz tudo o que tem a dizer: semeie, semeie estrelas, mesmo que à noite e solitariamente.
Ser capaz de semear estrelas nas noites mais escuras é acreditar no dia seguinte, é esperançar. Toda a esperança que transcende o hoje, que se propõe a desenhar caminhos para um futuro, precisa considerar o vivido, o sofrido, o que foi perdido no presente. A esperança do verbo esperançar não pode negar a dor do hoje, se assim fosse, seria uma espera ingênua.
Esperança é um princípio de vida, é uma necessidade do ser. A esperança só não ganha a luta, escreve Paulo Freire em Pedagogia da Esperança:
“mas sem ela a luta fraqueja e titubeia. Precisamos da esperança crítica, como o peixe precisa da água despoluída”.
A esperança se funda como potência de estar na vida e se entrelaça profundamente com o sentido de viver. Se a esperança sozinha não alcança o horizonte, tampouco a luta sozinha chega lá, um é combustível para o outro. Se não houver um pingo de esperança de que irá amanhecer melhor do que finda a noite, por que continuar? A esperança é a ética da vida que nos mantém atentos às possibilidades das sementes.
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