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Foto do escritormoniquejuchum6

Luto: não somos os únicos


“De repente,
você sumiu
De todas as vidas
que você marcou”
(Afterimage, Neil Peart em Ghost Rider: A estrada da cura.)


Não somos os únicos a passar por pesares e lutos, mas essa verdade não nos livra da dor. Quando criança, muitas vezes perguntei à minha bisavó Alvina sobre os porquês de acontecerem coisas ruins às pessoas boas que eu conhecia. Contando suas histórias e causos, minha bisavó encontrou uma maneira de responder às minhas perguntas e acalmar-me em minhas dúvidas. Nunca tive certeza se o que ela me contava era verdadeiro ou inventado. Na verdade, muito mais tarde aprendi que as histórias, quando servem para iluminar aquelas partes da vida que ainda não compreendemos, tornam-se verdadeiras – porque a luz que lançam sobre nossas dúvidas e medos é verdadeira.


Uma das histórias que muitas vezes ouvi como resposta à minha pergunta fala sobre uma mulher desesperada que procurou um remédio para tirar seu bebê do colo da morte.


“Uma mulher viu seu filho, ainda bebê, ficar doente e morrer em seus braços. Desesperada por não saber nem conseguir fazer nada para salvar seu filho, a pobre mulher saiu pelas ruas implorando que alguém a ajudasse a encontrar um remédio que o salvasse da morte. Como ninguém podia ajudá-la, a mulher foi procurar um sábio que morava nas montanhas. Com a criança nos braços, tentou explicar sua angústia.

O sábio homem, então, respondeu que havia somente uma maneira para que a mulher pudesse encontrar alívio para a sua dor. Ela deveria voltar para a sua cidade e trazer para ele uma semente de mostarda de uma casa onde não houvesse sofrimento por causa de alguma perda. A mulher ficou cheia de esperança. Foi, então, de casa em casa. Mas, para sua surpresa, ouvia sempre a mesma resposta. ‘Muita gente já morreu nesta casa’; ‘muitos sonhos se perderam nessa família’; ‘desculpe, já houve morte em nossa família’; ‘aqui nós perdemos um bebê também’. Depois de percorrer todas as casas de sua aldeia sem conseguir a sua semente de mostarda, a mulher compreendeu a lição. Então, voltou à montanha e disse ao sábio: ‘A dor me deixou cega. Eu me sentia a única pessoa sofrendo na face da terra, a única que perdera um filho, a única a segurar seu bebê morto nos braços’.”

Já recebi essa história com as mais diferentes origens e autorias. Descobri, no entanto, que se trata de um conto da tradição budista tibetana, contada por Sogyal Rinpoche no Livro Tibetano do Viver e do Morrer. Como minha bisavó a conhecia? Acredito que essa seja uma dessas histórias que ultrapassam tempos e culturas pela tradição oral para nos lembrar que o sofrimento é único em nós, mas que não somos os únicos a sofrer.


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