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  • Foto do escritorVera Weissheimer

Por que falamos baixo quando amamos?

Atualizado: 8 de fev. de 2022

Certa tarde, caminhando pelo bairro, parei em um pequeno café para tomar um capuccino e percebi que havia uma criança gritando com a mãe, que por sua vez gritava ainda mais alto com um adolescente, pelo que pude perceber era o filho mais velho que, ao chegar no carro, gritou com o pai.


Mas minha alma se aquietou quando, ao meu lado, sentou um casal de idosos que falavam baixinho e devagar, bebericavam sem pressa se deliciando com a espuma do café cremoso que só tem naquela esquina. Depois, reparei num casal jovem cujas palavras eram sussurros no ouvido um do outro.


Por que gritamos tanto uns com os outros se podemos falar, assim, com vagar e afeto? Gritamos quando estamos aborrecidos. Gritamos porque perdemos a calma e alma do relacionamento já se foi. Gritamos quando já não sabemos mais o que dizer. Mas por que gritar quando a outra pessoa está ali ao nosso lado?


O fato é que, quando duas pessoas estão magoadas, seus corações se afastam. Para cobrir esta distância erguem-se os decibéis da voz, na tentativa de se fazer ouvir. Quanto maior o aborrecimento ou a mágoa, mais barulho há dentro de nós e mais alto temos que falar.

Quando amamos, não gritamos. Falamos baixinho. E por quê? Porque nossos corações estão muito mais perto. Às vezes, estamos tão próximos do coração do outro, que falamos com os olhos, e o outro entende tudo, palavra por palavra.



Gritamos porque o que era, antes, um probleminha se agigantou. Como poetiza Paulo Liminski: “Os problemas têm família grande, e aos domingos saem todos a passear. O problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas.”

Sem uma boa conversa, assim, olho no olho, os problemas começam a se procriar como ratazanas. Algumas vezes, já não há mais o que dizer, nenhum grito alcançará a alma da outra pessoa. Então, é possível, que chegue o dia em que não haja mais possibilidades de algum retorno, por que no meio caminho a ponte que unia, foi destruída. Cada qual acreditou que estaria sabotando a ponte para o outro. E, na verdade, agora, cada um está em um dos lados do abismo, olhando para a ponte empurrada rio a dentro.




Reconstruir a ponte é resgatar a si, é começar a reconstrução e reforma em si próprio, é desobstruir os próprios ouvidos dos lixos acumulados, das mágoas envelhecidas, dos sonhos desbotados. É ajustar o volume da própria voz para que chegue agradável. Desejo a você um relacionamento em que seja possível o silêncio que fala, o olhar que diz, o ouvido que compreende os diferentes sons de sua respiração. Desejo que, antes de tudo, você saiba escutar a si mesmo, a si mesma, assim, e só assim, será capaz de escutar a outra pessoa.


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