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  • Foto do escritorVera Weissheimer

Quando o diagnóstico enguiça o tempo

A notícia de uma doença grave é como um ladrão que entra em sua casa durante a noite. Quando você foi dormir tudo estava como sempre esteve e deveria estar. Pela manhã, você acorda e está tudo fora de lugar, revirado, bagunçado. Você fica sem palavras, tem vontade de gritar, de ligar para a polícia, não sabe o que fazer primeiro! Fica paralisada e, por mais que tente, não consegue entender o que houve. Não consegue identificar o que foi roubado, porque tudo está remexido.


O diagnóstico de uma doença grave é um divisor de águas, enguiça o tempo. Altera radicalmente o significado do mundo. Transforma as relações afetivas, os desejos, o olhar para os objetos antes tão comuns e corriqueiros. São os extremos: o viver e o morrer; a doença e a saúde; o medo e a coragem. Se até esse momento a pessoa estava tomada por uma vida morna, pode passar a ter coragem de arriscar e de optar por algo mais radical. Em nome de uma exagerada prudência, o que se vive é uma mornidão, uma vida constantemente refreada. E é, muitas vezes, no susto de perder a vida e a oportunidade de fazer alguma coisa que valha muito a pena que a coragem para opções mais radicais, mais importantes e mais decisivas aparece.Diante do diagnóstico gostaríamos de atrasar o relógio. Barganhamos. Suplicamos.


O desejo de ter o poder de prolongar a vida, nem que seja por algumas horas ou dias, toma conta. A vida vai dando sinais de que é hora de fechar as cortinas e nós insistimos num ‘BIS’.Ficamos pasmados diante da ampulheta do tempo - a vida está dando sinais de querer deixar engolir o último grão de areia. Queremos fazer a areia voltar para o lado de cima, ou chacoalhar a ampulheta para que tudo comece novamente. mas nem uma nem outra coisa é possível.


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