(Vera Weissheimer)
Quando acontece uma morte na família ou de pessoas próximas, uma pergunta muito comum é sobre como agir com as crianças. Por uma tentativa de proteção ou para poupar-se de dar respostas dolorosas, o adulto costuma privar a criança da participação em conversas sobre morte e doença. Assim, a criança fica alheia às dores da família, o que parecia proteção vira-se contra a criança de forma cruel.
Quando alguém morre, explicações como “ela foi fazer uma viagem”, podem criar na criança a expectativa de um retorno e quando o retorno não acontece, o sentimento de desamparo. Uma mulher de 57 anos contou que levou mais de quarenta anos para compreender o sentimento de desamparo que sempre a acompanhou. Quando tinha 6 anos de idade, a sua mãe morreu de forma súbita. Não contaram a ela sobre a morte, foi lhe explicado que a mãe precisou fazer uma viagem para visitar uma parente doente. ‘Mas a mãe preferiu ficar com a parente e não voltou mais’, isso foi o que ficou para a criança. Mesmo que, mais tarde tenha compreendido que a mãe havia morrido e não desaparecido, o sentimento de desamparo e abandono já estava instalado em sua alma e a acompanhou para a vida adulta.
Por mais que a família tente esconder, na maioria das vezes, as crianças percebem que algo está acontecendo, elas vêem os adultos se escondendo para chorar, percebem a tristeza que paira na casa. Quando não conseguem falar, por não encontrarem espaço aberto e propício para colocar a dor em palavras, apelam para seus silêncios, para os jogos, desenhos, brincadeiras como forma de expressar seu sofrimento e denunciar seu medo. A expressão da dor pode vir também, em forma de agressividade, a criança poderá se sentir culpada de a mãe ter morrido. Uma criança de cinco anos disse para a professora: “Minha mãe foi morar no céu porque eu não fui obediente e ela se cansou de mim”. O único lugar que essa criança encontrou para falar de sua dor, foi na escola.
Perguntei para minha sobrinha de 7 anos, o que poderia ajudar as crianças que estão tristes por terem perdido alguém, ela prontamente me disse:
“Precisa ter paciência e precisa de um lugar pra criança falar quando der vontade. As palavras não saem quando a gente quer, demora um pouco”.
Um bom conselho, não é mesmo?
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