(Vera Weissheimer)
“Para a criança, a morte é não apenas um desafio cognitivo
para seu pensamento, mas também um desafio afetivo”
Wilma Torres
Não há uma resposta fácil. Uma resposta pode vir dos estágios, propostos pelo educador Jean Piaget, para o desenvolvimento cognitivo da criança, o que é utilizado por muitos autores e autoras:
No estágio sensório - motor, que compreende de 0-2 anos, quando se dá a aquisição da linguagem, o conceito de morte não existe, a morte é ausência, uma experiência de dormir e acordar, percepção do ser e não ser.
No pré-operatório, a fase de 3-5, a morte é compreendida como temporária e reversível, não separam vida e morte, seres animados são iguais a inanimados, pedra pode falar, graveto vira ônibus, e assim por diante. O pensamento tem características mágicas e autorreferentes, tudo gira em torno de si mesma, e a linguagem é literal e concreta, dificilmente há nessa fase a possibilidade de uma compreensão abstrata.
Dizer que vovô foi para o céu para uma criança nessa idade, é dizer que o vovô está no céu físico. Um menino de 4 anos que veste sua capa de super-homem para voar até o céu querendo visitar o vovô, porque a saudade estava grande demais, é um alerta para tomarmos cuidado com o que falamos ao tentar usar metáforas para as crianças muito pequenas. Algumas se contentam em olhar para as estrelas, outras não. Mesmo quando a pessoa que morreu é identificada com uma estrela, pode surgir a angústia em uma noite sem estrelas. O que pode funcionar muito bem para algumas crianças, pode não funcionar para outras. A sensibilidade de perceber a criança, escutar e acolher será sempre a melhor maneira de sentir o que é possível dizer.
Na fase do operatório concreto, de 6 a 9 anos, passam a apresentar uma organização espacial e temporal: a pessoa morreu e vai para o túmulo. Nessa fase os seres animados são diferentes dos inanimados, há oposição entre vida e morte: morte é processo definitivo e permanente (compreensão do conceito de irreversibilidade, o pensamento mágico começa a dar lugar ao predomínio do pensamento concreto, conseguem compreender a irreversibilidade da morte.
Apesar de serem capazes de explicar adequadamente as causas da morte, conseguem apreender o conceito de morte em sua totalidade, considerando a funcionalidade, irreversibilidade e inevitabilidade.
Na fase dos 10 anos em diante, chamado de Período de Operações Formais, o pensamento começa a assumir roupagens mais formais, torna-se mais abstrato. Conseguem com mais clareza compreender o conceito de morte também como algo pessoal e as explicações são da ordem do natural, do fisiológico e do teológico.
Esta é uma das maneiras possíveis de se compreender o tema. É importante considerar que a aquisição do conceito de morte pelas crianças não está relacionada só à idade, mas depende também das vivências sociais, psicológicas, intelectuais e da experiência de vida que for experimentando com as pessoas em seu contexto.
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